terça-feira, 2 de março de 2010

Ushuaia, Tierra del Fuego, 21-22.02.2010

Depois de reaver enfim "el equipaje", coloquei o casaco e fui me aventurar. Prá começar, matar a curiosidade da neve subindo a montanha hasta el "Glaciar Martial", com Ian, Corinne (ingleses) e Sarah (americana). Para o trekker europeu experiente, nada de mais, mas para um pernambucano de Petrolina que sempre morou em Boa Viagem, um primeiro contato interessante para mungangas e fotos casualmente abestalhado. Verdade que a tal neve estava mais para gelo, meio dura e lamacenta, e quase levei um tombo. De fato, foi melhor mesmo deixar os bonequinhos de nariz de cenoura para outra ocasião...

Ao sairmos pela cidade, o Ian me provou que os ingleses podem ser mais fanáticos do que nós em questões futebolísticas. Onde entrasse pedia ao garçom para sintonizar no jogo da "premier league", mesmo que não fosse do seu Arsenal. Tive alguma dificuldade em explicar a ele que o Robinho da seleção joga mais que aquele reserva do City. Ao menos, Gilberto Silva e Daniel Alves ele respeitava. À noite, fomos ao tal Irish Pub de Ushuaia beber da boa cerveja Beagle vermelha. Legal que os bebentes na Argentina recebem pipoca ou amendoim por conta da casa. Uma boa ideia, já que a gente acaba bebendo mais e mais... Resultado: ressaca no dia seguinte. Nada que um banho quente não possa disfarçar. Na noite seguinte voltaríamos para lá. Para ouvir "it's the end of the world as we know it", do R.E.M., como não poderia deixar de ser.

Um passeio inevitável em Ushuaia é sem dúvida navegar pelo canal de Beagle, que bem podia chamar-se "Brrrrreagle" pelos ventos antárticos. Difícil supor como os rústicos fueguinos se viravam por esta terra agreste logo que chegaram, alguns séculos antes dos espanhóis e de Darwin. Quando pequeno e já fascinado pelo mundo, achava Tierra del Fuego um nome estranho para um lugar tão frio, e ficava matutando sobre que acontecia lá no encontro dos oceanos. Não, de fato não encontrei os monstros de fúria de titãs. Todavia, pude atestar a pertinência do nome. Não tinha homo sapiens que sobrevivesse aqui sem uma fogueira decente.
A viagem de 6 horas valeu a pena, mais pelos pinguins magallanicos e leões marinhos do que pelo "faro del fin del mundo" (sobre o qual Julio Verne escreveu um livro, sendo na época um farol bem mais rústico). Havia um pinguim de crista amarela sobressaindo da multidão: um imperador! Não sei se ele chegou prá botar ordem e progresso na Pinguiñera, mais provável é que divagou um pouco longe demais de seus irmãos na Antártica.
Na volta, com o mar um tanto turbulento, possível imaginar as dificuldades que o capitán Magallanes deve ter encontrado para dar a volta ao mundo em sua caravelinha Trinidad. Mal supunha ele o tamanho do Pacífico do outro lado e seu destino fatal nas Filipinas... Claro, prá não perder o mote, lembrei que ainda estava meio de ressaca e fiquei nauseado. Fui à popa me refestelar (essa palavra eu empresto do Deyvis) num banco vazio. Do outro lado, um simpático casal de brasileiros de férias acampando pela Sudamérica me ajudou a trocar os pensamentos marejados por sonhos de Torres Del Paine. Poizé, depois de colonizar Brasiloche, o fim do mundo já está amarelando. A moça, paulista, o rapaz, paranaense, planejando morar em Maceió. Apesar de achar Pajuçara uma fuga coerente ao caos de Sampa ou à afamada chatice dos curitibanos, não pude deixar de pensar na história da grama do vizinho...

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