quinta-feira, 11 de março de 2010

El Calafate, 02-03.03.2010

Bem, depois de toda a aventura chilena, era mister desacelerar. Calafate parecia bastante propícia para a empreitada. Algumas noites em um albergue melhorzinho para relaxar e atualizar as *coisas* (isso aqui, por supuesto). Andando pela cidade, barzinhos e lojinhas de souvenires, superfaturados. E no meio de tudo, um cassino. Uma versão turbinada de Gravatá? Fica a impressão de que não tenho de fato muito a perder me enfurnando no albergue por algum tempo. O que a ciudad tem de imperdível é talvez sua razão de existir: el Glaciar *Perito Moreno*. O maior picolé fora das calotas polares. Mañana, veremos. Hoy me satisfaço com um helado com merengue, dulce de leche (como gostam disso os argentinos) e chocolate com avellanas. nham nham. Curto isso tudo torcendo pela Alemanha contra a Argentina, amistoso em Munique, ao vivo. Gol de Iguaín. O cara ao meu lado dá um pulo. É só um amistoso, mas teve jeito de copa, os dois times aguerridos e a defesa argentina se segurando com todas as forzas até o fim. Apesar de todo o habitual endeusamento de Maradona, os argentinos não estão particularmente confiantes no time. Depois desse juego, "el grande teste", o clima pode cambiar bastante acá...
Andando pelo mercado, encontro com Johanna, a professora ítalo-americana-alemã que conheci a caminho de Puerto Natales. Este deve ser nosso sexto encontro casual pela América do Sul. Seria a Patagônia também uma vila de pescadores? Parece inevitável se bater com as mesmas figuras nesta parte do mundo, já que muitos roteiros coincidem (ou se sobe, ou se desce). Ela está sempre sorridente e debate bastante sobre os custos dos passeios. E me informa oportunamente que minha cara está pior a cada vez. Oops. Hora de fazer a barba, e dormir mais.
No dia seguinte, de cara limpa, vamos ao Perito Moreno! O nome da geleira é uma homenagem ao cientista e explorador argentino Francisco Moreno, que ao que parece não chegou a conhecê-la. Ainda no ônibus, paramos em outro albergue e... surpresa! encontro Priscila, velha (digo, das antigas) amiga sempre viajante. Depois de Brasília e Copacabana, agora nos encontramos em Calafate... Parece que a América também é uma vila de pescadores. Claro, como sempre soubemos onde estávamos, neste caso não posso falar em coincidências circunstanciais, mas apenas... existenciais? Ela também decidiu dar um tempo na rotina, no seu caso os estudos para o Instituto Rio Branco, e conhecer este pedaço do mundo. Pena que seu joelho estava doído, então terá de abreviar a viagem. Mas que ótimo que nos encontramos hoje, sem combinar, no seu último dia, depois de alguns desencontros de emails e roteiros. Assim o Perito Moreno fica com uma cara familiar de passeio de domingo. Trocando o Paço Alfândega pelo Parque Nacional Los Glaciares.
Como quase sempre na Argentina, temos que pagar uma entrada meio salgada para desfrutar de la naturaleza: 75 pesos. Feitas as contas, que bom que tenho minha amiga do lado para um empréstimo providencial na hora do almuerzo. A geleira, vista já de longe, torna-se supercalifragilisticamente imponente à medida que nos aproximamos. A analogia preferida deles é com a capital: "una area total major que Buenos Aires". Pegamos o barco no lado norte e testemunhamos tão perto quanto possível aquela metrópole desértica de branco ofuscante. E azul, cor dominante das partes mais internas, mais antigas, creio. Algumas fotos depois, torcemos pelo momento embasbacante maior: o desquebramento do gelo. O silêncio do Glaciar é literalmente quebrado a todo instante por ruídos profundos que parecem saídos de alguma ficção científica "Viagem ao centro de Marte" (ou, bem, "Era do Gelo 4"). Como não poderia deixar de ser, o desquebramento (palavra bonita que não se usa em todo canto né) teima em não acontecer enquanto estamos pertinho, torcendo "vamos perito cariño, muestre tu poder... bora Moreno branco, faz tua parte... despedaça danado, quebra logo prá mim p****"!!! Droga, onde deixei minha granada de mão quando mais preciso dela...Finalmente, quando já estávamos passeando pelas plataformas e comendo maçãs e pêssegos (como são bons estes duraznos acá), Priscila usa seu sexto sentido feminino e me avisa para pegar minha câmera. Ela viu um pedacito de hielo caindo, aperto o rec, ela acertou na mosca: um gelinho precede o gelão que faz no lago um barulhão. Uma rima pobre não passa certamente a dimensão do nosso estupefatamento, mas você pode imaginar. Algumas míseras toneladas de gelo se chocam contra o lago plácido e fazem um barulho profundo de, bem, avalanche na água. Difícil descrever, só posso tentar uma aproximação onomatopaica: prshhhhhprrrrooffffffcataploffffffrrrrshvmreimwntrpdxs!!!! Talvez seja melhor postar o vídeo no youtube né. Así será, luego.
Como não poderia deixar de ser, de volta à cidade terminamos nossa tarde num librobar-café pitoresco. As bebidas tinham nomes de escribidores argentinos, claro. Minha escolha natural seria um Borges ou Cortázar, mas ficamos com o queridinho da Priscila, Sabato. Acompanhado de algum coiso bom de banana com (adivinha?) dulce de leche. Muy bien, mas não superou o Café Colombo, do Rio. Teremos que esquentar essa disputa em outros cafés pelo mundo... Paris Pris? como se diz em castellano: jejejej. Con amigos, es siempre mejor.

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