terça-feira, 2 de março de 2010

De Ushuaia a Puerto Natales, 24-25.02.2010

Partindo do fim do mundo, só me resta subir na vida. O próximo destino prometia ser não menos frio, mas ainda mais maravilhoso: Puerto Natales e Parque Nacional Torres Del Paine. A viagem porém poderia ser mais curta: 17 horas entre ônibus e paradas obrigatórias deixam qualquer um com bus-lag. A paisagem patagônica e a travessia do estreito de Magalhães (golfinhos me pulem!) valem a pena, mas os trâmites alfandegários entre a Argentina e o Chile esgotam a paciência dos turistas mais voluntariosos. A impressão de que os vizinhos rivais (e colegas de Mercosul?) em geral não se dão muito bem vai adquirindo ares mais concretos. Melhor esquecer que ainda devo passar por isso outras vezes...
Enfim, falando das coisas boas, a paisagem no caminho por si só merece um livro. Não que as planícies patagônicas sejam particularmente maravilhosas, mas me pareceram convidativas à reflexão (talvez tenha passado tempo demais na janela). Em meio à poeira das estradas de rípio (o cascalho deles), a visão se perde no horizonte plano como um oceano de desolação. Quanto mais se afasta do Equador, mais lenta a rotação da Terra, de fato. Ao sair do Paralelo 8 para o 55, devo ter ficado com terra-lag, já que aqui gira particularmente devagar. Metáforas à parte, as pradarias sugerem uma paisagem que pouco mudou nas últimas décadas. As ovelhinhas parecem viver em câmera lenta. As cercas atestam a ocupação humana, mas pode-se levar horas até ultrapassar um carro ou testemunhar viv'alma. Além do vento (invisível, mas onipresente), apenas a corrida dos guanacos movimenta o filme. Assim foi melhor mesmo contar as ovelhinhas e dormir um bocado...

Os dias aqui estão bem longos, mas também acabam, e só depois chego a Puerto Natales. Às 23:30 poderia ser bem perigoso andar por ruas desertas no Brasil, mas bem, vamos tentar deixar a paranoia urbana no passado por enquanto. Chegando ao albergue Kaweskar do Omar, o ambiente meio rústico me faz logo sentir em casa. Agora é reconhecer o terreno para me preparar para o trekking da minha vida: o famigerado *W* em Torres del Paine. A simpática Natales é praticamente uma base de exploradores do mais sensacional parque nacional chileno. Assim, não foi difícil juntar-me à Julie (francesa), David (inglês) e Marjolein (holandesa) para formar nossas nações unidas do camping. Desta forma tudo fica mais barato e seguro (e divertido!) para todos. Expedição formada, ansiedade crescente. Essa não vai ser fácil, mas até aqui, eu tenho a benção da semi-ignorância mesclada à empolgação do novo desafio...

Nenhum comentário:

Postar um comentário