segunda-feira, 28 de setembro de 2009

E aí?

Rio São Francisco (vai bater no meio do mar...)
O rio segue tranquilo, bonança... Sombra e água fresca, o que mais se poderia querer? Bem, se a lei maior da natureza é a transitoriedade, hoje é tudo, mas também é só véspera. Sempre em frente. Isso me remete às verdades fundamentais do budismo, do qual pouco conheço, mas me parecem fazer sentido. A nossa natureza de seres desejantes com noção do próprio fim pode parecer meio cilada, já que insatisfação vira regra e plenitude uma abstração. Não sei se a felicidade advém da abnegação dos desejos, mal posso imaginar como seria estar "iluminado", mas prefiro acreditar que a vida que temos é só essa mesmo. Então, seu sentido e propósito devem ser intrínsecos. Pessoais e intransferíveis.
Questionar é preciso. Dialética não é novidade há pelo menos 2.500 anos, mas meu primeiro contato com questões filosóficas de que consigo lembrar foi através do professor de história do primeiro ano. Rubem Franca gostava de citar Sócrates à exaustão para os meninos de 14 anos. "Só sei que nada sei", clássica. "Conhece-te a ti mesmo", ele dizia, em grego e latim nos fazia repetir. Algumas coisas inculcam na gente mesmo se não sacamos seu alcance. Aí está. Auto-conhecimento. Dizem que é uma ferramenta importante para se construir alguma cabana que não se deixe derrubar na próxima tempestade.
Então, vamos lá. Quando pequeno achava que bastava saber que era o filho do meio, que queria ser médico como o pai. Depois da medicina, com a psiquiatria naturalmente chega-se ao Freud, e aos poucos as coisas vão perdendo a suposta simplicidade. Já percebi que ler e refletir ajudam a me conhecer, mas sei que nada substitui a experiência no caminho do auto-conhecimento. Neste sentido, viver plenamente seria também (em boa parte) arriscar-se a experimentar: aprender com o novo para transcender-se. O Hesse tinha algo a dizer sobre isso, através do Sidarta - perdido entre a dissipação da Sansara e a emancipação do Nirvana -, quando se viu balseiro e descobriu o *rio*, para assim (tentar) compreender o todo. Felicidade/plenitude não são ensinamentos doutrinários, antes diria: navegar é preciso. Ok, isso é do Fernando Pessoa, mas enfim, você entende... Alguns clichês ecoam na cabeça quando mais se precisa deles.
Não tenho filhos, meus irmãos estão casados e bem encaminhados, meus pais, saudáveis e resolvidos. Bem, tanto quanto possível. Em tese, não há (de)pendências. Isto me permite liberdade, o bastante para ser incapaz de ignorar certas coisas. Então, é nisso que minha vida gira atualmente: sede por experiência.

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