quinta-feira, 22 de abril de 2010

Bariloche, 11-15.03

A pérola do turismo brasuca me dava coceiras, ao pensar nos clichês: muita pompa e badalação, preços altos, natureza demasiadamente explorada. Brasiloche, tua fama te precede. Por este lado, foi uma grata surpresa. Decerto que no verão trata-se de uma cidade um bocado diferente, pois não há neve alguma no cerro Catedral. Chegando em Março, no estoy acá para esquiar e me empanturrar de chocolates del Turista. Assim também parece haver menos brasileiros. Não me entenda mal, apenas não estou com tanta saudade ainda, e me agrada ter uma noção mais pura do local.
A visão do lago Nahuel Huapi é um lindo cartão de visita. Inspira à paz e tranquilidade, por supuesto, mas também instiga a subir mais alto e ter uma noção mais larga do que chamam de região dos lagos. Decido esnobar a aerosilla (teleférico) para subir ao cerro Campanario. Nada de mais, já que 25 minutos de caminhada foram o bastante para chegar àquela que a National Geographic considera uma das vistas top 10 do mundo. De fato, uau.
Hanna tenta aprender malabarismos com Matías, um chico porteño muito legal que ela conheceu no albergue. Artista de rua, que também se garante no ping-pong. De volta ao albergue, pomos na mesa a velha rivalidade Brasil-Argentina. Depois de muito treinar (perder), enfim consigo derrotá-lo(ooo!!!). Tudo se resolve com uma boa dose de perseverança e cerveza, claro... Aqui eles têm versões litro das minhas favoritas Heineken e Stella. Otra, por favor. Só não consigo persuadi-lo de que Pelé é melhor que Maradona, e melhor não insistir no assunto por aqui. O Matías nos ensina a fazer a típica milanesa que tanto encanta os hermanos, enquanto ajudamos com a ensalada. Comemos um montón, e confraternizamos ao som da voz e violão do maluco beleza habitué do albergue. Entre outras pérolas pop locais, um bocado de Fito Paez, ele não deixa de fazer a média comigo, mandando sua versão "libre" de Garota de Ipanema. Ok, viva Brasil. Esse mesmo artista-alegre-cujo-nome-eu-não-lembro calhou de ser o primeiro ser humano a me dizer que conhecia minha querida Recife nesta viagem. Empolgado por não ter que repetir a velha história "ok, é uma grande cidade do nordeste brasileiro, 800km ao norte de Salvador", perguntei a ele o que achou da veneza-brasileira-capital-cultural-melhor-carnaval-do-mundo, ao que ele me disse: "Recife huele... mal." Recife fede? Como assim, é só o que você tem a dizer? Mas é só o mangue, natureza em ebulição! Pqp...
Dizem que o (Walt) Disney tirou de Bariloche a inspiração para criar o Bambi. heheheh, vou poupar os argentinos de piadinhas infames. No outro dia, decido conhecer tais bosques encantados, peregrinando até a "Cascada de Los Duendes". Hermosita, pero muy chiquita, nada demais. Se foi por aqui que ele andou, devia estar mucho loco em alguma substância para imaginar os bichos. O passeio valeu pelo encontro con una pareja muy especial: Choncha y Isidoro, uma golden retriever e um labrador que brincavam de buscar madeira no lago Gutierrez. O hiperativo Isidoro só quer saber de um pretexto prá correr, nadar ou latir. Já a Choncha, que linda, faz até pose. Que espertos esses bichos! Yo quiero un golden para miii...
Já recomposto das longas aventuras patagônicas, o Sol brilha bonito e decido encarar os 30km de bicicleta no circuito chico do Lago Nahuel Huapi. Depois de algum treino no calçadão da praia de Boa Viagem, não há de ser nada demais. Ledo engano. Subidas e descidas fazem a graça do muntain bike, mas tornam a coisa mais difícil, e perigosa para principiantes. Tentando fazer como manda o figurino, pedalo pelo acostamento com dificuldade. Numa descida mais complicada, pedregulhos no caminho e eu invento de frear a dianteira... crashboombangrastaplofff. Graças ao judô na infância, caí com estilo suficiente para salvar-me de fraturas. Essa megaescoriação no cotovelo não deverá ser mais que um souvenir dos lagos. Sem tempo para remoer (ninguém viu, ninguém viu), recomponho-me e assumo a vontade de competir com os carros pela pista, mais regular portanto confiável. E assim fui, agora con mucho gusto, ganhando confiança na bici, chegando aos 40 (50?) km/h nas descidas. Sensação de liberdade incomparável. Como os gringos costumam dizer: no risk, no fun. Enfrentar os riscos e superar os próprios medos nos enchem de vontade de poder, deixando a liberdade mais palpável. Lembro da minha mãe - que nos fazia prometer jamais andar de motocicleta - então sigo dosando no freio de trás, siempre. Parece que amor e liberdade não são lá muito compatíveis, ao menos em nossa cultura. Por ora, vou curtindo as paisagens. Elas valem o sacrifício. Por ti, derramo meu sangre, Argentina...Bariloche também é famosa pela sua badalação, entons nos vamos: arriba, abajo, al centro, adentro! Depois de semanas saludables de naturaleza y luz, acá finalmente tenho contato com a noite argentina típica, em que nada acontece antes das 2 ou 3 da madruga... Carajo, ainda bem que o energético tá bem mais barato do que no Brasil, além de todo o resto. O câmbio favorece a nossa esbórnia. Que puedo hacer yo, pero bailar. Também aqui enfim conheço os famigerados ritmos locais: cumbia (mais na versão electro) e reggaeton. Nada a ver com reggae! Estourou hace pocos años, parece, e faz a cabeça (quadris e todo o resto) de 9 entre 10 chicos daqui. Algo comparável com o funk carioca, no sentido mais sensualmente popular ou sujo da coisa, carrega fuerte na identidade latina. Mais um indício desse acerto de contas com o resto da Sudamérica? Bem, não é hora de analisar, sino que de requebrarrrr...

Um comentário:

  1. O lago é lindo! Vc foi na floresta do Bambi? Fui com Vivi e a gente amou.:*

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